IBI NEWS – Como você vê o atual cenário do mercado de impermeabilização no Brasil, considerando os desafios econômicos e as inovações tecnológicas nos últimos anos?
Claudio Ourives – Em um país cheio de contrastes econômicos e sociais, a construção de uma forma geral tem características e qualidades muito díspares quando se observa um país continental como o nosso. Isso vale para o mercado da impermeabilização.
Aponto três razões para isso:
- Oscilação do cenário econômico e político: o país tem vivido cenários de baixa previsibilidade, com altos e baixos na economia, forçando o investidor e empresário a buscar operações de menor risco e a rentabilidade via mercado financeiro. Isso leva a reduzir os valores dos investimentos em ativos (CAPEX), que inclui projetos de impermeabilização. Essa postura de proteção, gera uma visão ou cultura de curto prazo afetando ao maior detalhamento dos projetos, contratação de projetos de impermeabilização e, consequentemente, a durabilidade das estruturas.
- Acesso a informação e educação: vemos excelentes iniciativas de divulgação de tecnologia nos grandes centros urbanos, próximos às universidades e aos institutos como o IBI. Há um esforço grande e uma evolução da educação sobre a impermeabilização das estruturas nos últimos anos. Com o formato de educação a distância, facilitou a divulgação dos temas antes restritos às cidades grandes. É uma questão de tempo e depende de profissionais como os que frequentam o IBI de forma voluntária e altruísta. Lembro dos professores Zamarion e Paulo Helene em uma palestra na USP, em 1998, dizendo que há 10 anos falam da importância do cobrimento do concreto sobre as armaduras. Levou 10 anos para incluírem na NBR 6118 as revisões.
Para quem viaja pelo país, nota que ainda falta muito. Tem a dificuldade da distância, da logística para fornecimento das novas tecnologias e falta de profissionais capacitados. A impermeabilização deve ser assunto discutido nas escolas de engenharia e arquitetura para esses futuros profissionais deem a devida importância ao tema e que saiam com a certeza de que a durabilidade passa pela impermeabilização.
O artigo “Queda de calouros indica que engenharia virou suco” do Élio Gaspari, diz que houve uma queda de 23% nos cursos de engenharia de 2014 a 2023. Há um desinteresse dos jovens pela engenharia. Um país que quer crescer precisa de engenheiros.
- Garantia e desempenho: Em 2013 foi lançada a norma de desempenho NBR 15575 e, em 2022, a norma de garantia NBR 17170. São avanços para a conscientização da necessidade e do desenvolvimento do mercado da impermeabilização. Para que se concretize, é preciso fortalecer os projetos em impermeabilização nas construções no Brasil para trabalharmos com os conceitos de vida útil do sistema, programa de manutenção preventiva e valorização do patrimônio. As construções devem contratar mais projetos de impermeabilização. E devemos ter mais profissionais capacitados.
IBI NEWS – Quais são as principais tendências e inovações no setor de impermeabilização que os profissionais devem estar atentos para se manterem competitivos e atualizados?
CO – Em relação a materiais flexíveis, as membranas líquidas de base acrílica e poliuretano devem crescer mais devido a produtividade, qualidade do filme sem juntas, sem a necessidade de energia para executar as emendas, durabilidade e facilidade de manutenção.
Como tendências, os materiais devem atender as exigências de sustentabilidade e redução de pegada de carbono. O Brasil ainda não tem o mercado de carbono definido. Na Europa, a tonelada de CO2 pode custar 120 Euros. É um tema que não temos como fugir acreditando ou não. Há uma busca por fontes de energia renováveis que não sejam de origens fósseis. Partindo dessa premissa, projetos Lean&Green tendem a crescer, ou seja, projetos que utilizem menos materiais, que tenham baixa pegada de carbono e que tenham desempenho igual ou superior. As estruturas executadas com concretos autocicatrizantes tem como objetivo utilizar o próprio elemento estrutural, o concreto, como elemento de estanqueidade para estruturas enterradas como subsolos ou reservatórios, sem a necessidade de aplicar outros sistemas. As tecnologias de autocicatrização compostas pelos aditivos e pinturas cristalizantes hidrofílicas são tendências no mercado da impermeabilização.
O Brasil vive uma carência na mão-de-obra dentro da construção. O SINDUSCON SP fez uma pesquisa nos canteiros de obra e chegou ao resultado de que a idade média é de 42 anos. Não está havendo renovação na Mão de Obra (MO) nos canteiros de obra. A impermeabilização também é afetada devido ao aumento do custo de MO. Sistemas que ofereçam maior produtividade do serviço de impermeabilização terão mais espaço no mercado.
O mercado da construção industrializada deve crescer nos próximos anos com a construção modular, steel frame, impressora 3D. Novas tecnologias e materiais deverão ser aplicados ou adaptados para atender a essas demandas.
IBI NEWS – De que forma o Instituto Brasileiro de Impermeabilização tem contribuído para o desenvolvimento e a capacitação dos profissionais da área e como isso impacta o mercado como um todo?
CO – O IBI tem contribuído cada vez mais para a profissionalização dos profissionais e para a qualidade do setor. Houve muitos avanços no desenvolvimento de normas técnicas, com grande participação de fabricantes, projetistas e aplicadores. As divulgações dos trabalhos do IBI vêm crescendo em várias regiões do país além da região sudeste. Esse trabalho deve ser continuado e ampliado através de cursos. O IBI detém um grande número de informações, conteúdos técnicos e pesquisas que podem auxiliar na formação e capacitação de profissionais. O desenvolvimento desse mercado passa pelo crescimento do IBI como um norte ou farol para o mercado.
O IBI tem participado ativamente em conjunto com outras instituições que tem afinidade com a impermeabilização. Essa é também uma ação importante de representar o setor da impermeabilização em outros segmentos.
IBI NEWS – O mercado de impermeabilização está crescendo em diferentes segmentos, como construções comerciais e residenciais. Quais são as oportunidades e desafios que os profissionais enfrentam em cada um desses segmentos?
CO – As oportunidades estão na execução de projetos de impermeabilização. Muitas construtoras ainda não entendem o que é um projeto. É importantíssimo fazer a compatibilidade com a estrutura, arquitetura, drenagem e outros sistemas elétricos e hidráulicos, além de especificar corretamente os sistemas.
Também há oportunidades para empresas de aplicação com sistemas mais produtivos, que usem menos MO e reduzam o cronograma da obra.
Os desafios são a formação de profissionais qualificados tanto para projeto como para aplicação.
IBI NEWS – Com o aumento da conscientização sobre questões ambientais, como o setor de impermeabilização pode contribuir para a sustentabilidade e o uso eficiente de recursos na construção civil?
CO – A durabilidade das estruturas depende da impermeabilização. Maior durabilidade das estruturas, menor custo de reparos e menos consumo de materiais.
O IBI deve continuar com o trabalho de conscientização nas escolas, universidades, SENAI, cursos, etc. As crianças já foram educadas para separação de lixos orgânicos e reciclados e não atirar lixo na rua. As crianças atuais estão sendo educadas para evitar desmatamento, ter uma vida menos consumista (desmaterialização) e irão questionar a origem de determinado produto e exigir práticas sustentáveis. É com esse futuro que devemos estar atentos.
